07.02.2020 Interessa-me particularmente a pós-utopia
07.02.2020 Interessa-me particularmente, a propósito da
Electra, a memória - também eu sinto esse peso que cruza o abandono da
experiência vivida, com a incapacidade de assimilar o desejável.
A idade não é resposta unitária, sequer primeira.
A confluência, a carga, a
quantidade, a disponibilidade para conhecer cria uma desordem do saber, só
capaz de ser regulada pelo encadeamento da enciclopédia digital, onde encontra
o seu porto-seguro.
Sobre a memória caminha-se para a
vontade de voltar a relembrar, reescrever a história, triturando o esquecimento
e avivando a culpa e a vitimização.
Sobre a memória, a crise das
utopias, a pós-utopia, o declínio da esperança ainda nos rescaldos da morte de
deus e do socialismo.
A pós-utopia acentua o
conservadorismo e a protecção do capitalismo. Nada há para além do capitalismo,
apenas melancolia.
Mas sente-se, discretamente, com
uma velatura preventiva, uma pequena brisa progressista – um novo progresso.
Não uma brisa pós-capitalista plena, mas uma mudança não-revolucionária.
Uma brisa democrática,
universalista, ecológica, igualitária mas individual, que urge por uma justiça
social estruturada pelos excessos da produção capitalista.
A redistribuição da riqueza e a
redistribuição do trabalho, entre nós e a máquina.
Um progresso verde, digital e
maquinal, não assente no capital, mas no tempo, e no lazer.
A redistribuição do capital
transformada em redistribuição de tempo.
A pós-utopia, a pós-esperança e o
pós-spleen.
Uma pós-utopia, quer se quer
apenas utópica e nunca realizada – qualquer pós-utopia falhará.
Como a pós-utopia nos reconduz à
reacção é uma questão na primeira ordem da compreensão do presente. Sem futuro o
humano vira-se para trás, para o que conhece.
A ideia de nenhum futuro está
mais próxima de um mau futuro do que um bom.
O desconhecido direcciona para o
medo, e o medo promove o regresso ao conhecido.
E o que se conhece? (O eu? não) a
família, os semelhantes (comunidade) em imagem e pensamento, em regra e
previsão. Conhece-se a língua, a cultura, as maneiras e a moral. A geografia,
as instituições, o estado, a religião.
Reagir, conservar. Fechar.
A cavalgada nacionalista,
populista está bem construída sobre as ruínas da esperança.
Sem futuro, vale o passado, com
todas as imperfeições habituais cuja rotina o humano não é avesso
´é melhor que nada´ - o que temos
é melhor que nada. Como se o nada fosse uma hipótese.
Precisamos de novos utopistas que
construam uma narrativa por cima do nada.
Ao medo, há que voltar a suceder a
esperança.
Uma utopia simples: Podíamos ir
por ali. Não iremos. Mas podíamos. A condição humana não o permitirá! Mas
poderemos um dia tentar, nem que seja para repetir Sísifo.
Uma nova utopia pós-apocalíptica.
Uma utopia pós-alterações climáticas, pós-petróleo, pós-capitalista,
pós-socialista, pós-populista.
Uma pós-utopia.
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