05.04.2020 Interessa-me particularmente as particularidades e as generalidades

05.04.2020 Interessa-me particularmente as particularidades e as generalidades. Quando, recorrentemente se discute quem é o mais hábil a coordenar os projectos de construção, lembro-me sempre da comparativa explicação silenciosa do Siza:
os engenheiros…os arquitectos… Nas primeiras reticências um ligeiro pender da cabeça para baixo acompanhado por um elevar das mãos, esticadas ao céu, coladas ao longo dos olhos – as palas. Nas segundas reticências, o olhar sobe e as mãos abrem-se - asas - movimentando-se lentamente, lateralmente, para fora rosto. No que um fecha, cinge, direcciona e circunscreve, o outro abre, expande, convoca e adiciona.
Nos inícios desta peste – permitindo que a memória me atraiçoe, o que muito me desilude – lembro-me de ouvir falar de um grupo de 500 especialistas científicos que se uniram para debater (falo do questionamento da memória, pela evidente perplexidade face à hipótese real de tal concelho de sapiência: um laivo da desejável cooperação pan-nacional).
Conclui-se um nome des-estigmatizado para a peste, assim como a socrática certeza, que por ora, como agora, nada se sabia.
Pauta hoje, esta nossa melancolia, uma certa bipolaridade, um jogo de alternância científica: de manhã queremos a infalibilidade dos gráficos médicos para nos orientar o transe claustrofóbico do dia - e o descanso que só o seu cansaço servirá para pintar o arco-íris nas janelas; à noite queremos dos economistas os números-certos da desgraça, sinistras premonições que para desculparmos a insónia. Se dividirmos o dia, conseguimos encontrar o nosso credo no no ping-pong polar dos especialistas.
Interessa-me particularmente as generalidades enquanto recurso de saída, mas é, ainda, herético o escape deste acordo de particularidade dual.
Não aceitamos que se possa planear uma estratégia. Só permitimos a centrifugação traumática das curvas. Apenas a pausa simples, a total suspensão do olhar em direcção a.
É urgente o atrevimento das generalidades, mesmo sem convite. São essenciais os cenários complexos, principalmente neste tempo da incerteza.
O intervalo é particularmente e genericamente inviável.
Como alternativa surge a exigência de concepções para planos intermédios: e se?
Arrisquemos uma inactiva desobediência conceptual.
Façamos, ainda que como exercício, como projecto de pura especulação, modelos para cenários em que este será o nosso novo-normal.
Convoquemos uma nova-acção para o estado nubloso de intervalo, imaginando que (longe-perto da ciência e da economia) a sua duração, sendo incerta, é infinitamente incerta.
Se o conseguirmos fazer apenas das nossas poupanças o arco-íris infantil pode-se tornar adulto. Mas como tal é, inquestionavelmente, impossível de acontecer cabe-nos testar outros caminhos.
Interessa-me particularmente a generalidade, estamos a precisar de convocar novamente os generalistas, mesmo aqueles, e principalmente aqueles que por simples habituação apenas buscam, como Montaigne, senão passar despercebidos.

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