10.02.2021 Interessa-me particularmente a moda e a guerra (parte um)
I
Tal como a
guerra, a moda não é uma ciência exacta. Interessa-me particularmente o que
cada um veste. Defeito profissional, dir-se-á, ou afinal fala-se sobre simbologia e comunicação.
É por isso mesmo que quando um país escolhe um homem vestido de militar para a coordenação
do plano de vacinação da peste, tem de se pensar que: antes do Vice-Almirante
falar, a sua farda fala primeiro. Uma farda carrega mais séculos de história (simbologia) que um rigoroso fato, uma reverente sotaina ou uma negligente t-shirt de oferta de
uma corrida solidária. Senhor Vice-Almirante, por acaso não têm uma
gabardine?
II
Civilizar é a
acção de tornar civil, logo, não militar. Entende-se por civilizado,
um momento da história, longe da barbárie do teatro de operações. Em
tempos civilizados, querem-se os militares em estilo lock and load, de
inacção em espera. Estrategicamente escondidos e prontamente
preparados. Em tempos civilizados, como este, pode-se (eventualmente) em
momentos-chave, necessitar do socorro seguro de quem está preparado para
coordenar a paz como se de uma guerra se tratasse? Sim, desde que se e dispa a
farda e outros simbolismos. Em tempos de peste não precisamos de novas cargas
de medo sobre as nossas próprias paranoias. Senhor Vice-Almirante, para
usar com uma sweater casual, prefere um bomber ou uma parka?
III
A moda (e vamos deixar o design de moda para o próximo passo) é,
ao contrário da média, uma ferramenta de um interesse particular. A média
desloca o centro do seu posto, de acordo com o desequilíbrio das franjas. A
moda, por sua vez, mantém-se imperial, varre as excêntricas extremidades e
conta apenas com o que é regra, ordem, norma, repetição. E para a guerra,
senhor Vice-Almirante, vamos lá com modas?
IV
Consta que “de
vez em quando, a grande virtude militar é ultrapassar as ordens no campo de
batalha”. Ou seja, sair de moda: estar
fora de moda. Ora, se estar fora de moda é também qualquer coisa como: sair
da mediania - temos então um problema! E reformulamos: de vez em quando, a
grande virtude é abandonar o centro (mas só mesmo de vez em quando, não vá o excêntrico tornar-se central e lá se acaba com o design de moda).
V
Em tempos de
peste, a roupa de andar por casa é a grande moda. O RAP diz-nos
que este traje será qualquer coisa como: uma peça de roupa que ainda não está
velha o suficiente para se transformar em pano do pó. Dizem os
entendidos, que as fibras mais em moda não são boas para limpar o pó. Pelo contrário,
são elas micro-plásticos tão nocivos para o ambiente quanto as fardas o são
para a simbologia da coordenação da paz (e da peste).
VI
A inútil mediana,
por sua vez, representa “o valor central de um conjunto de dados. Para
encontrar o valor da mediana é necessário colocar os valores em ordem crescente
ou decrescente.” Se, em tempos de paz, militares fardados estiverem visíveis
a olho nu: eis um país mediano, que não dispõe de armas civis para comunicar na batalha do progresso. Senho Vice-Almirante, o que me diz de um bom fato clássico preto? Olhe que nunca passa de moda.
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