30.03.2021 Interessa-me particularmente o conservadorismo e a ponte
I
Se tirarmos os longos dias em
que me esforço intimamente por acreditar na existência de companheiros meus bem-intencionados,
particularmente interessados no progresso (e na utopia), posso com
alguma certeza afirmar que nos outros dias (e são alguns), a nível de método caprichoso, sou
um conservador. O MEC (o velho, quem mais?) tem uma excelente imagem para
explicar a coisa, que nos remete ao sempre inteligível universo infantil. Um
conservador é como uma criança que faz sempre um grande berreiro para entrar
no banho, mas que uma vez lá dentro, nada mais lhe resta do que um novo
hiperbólico pranto quando se aproxima a hora de sair. Claro está que isto a
nível de método leva-nos a patamares de conforto particularmente interessantes:
a água arrefece, poderão ser adicionados um ou dois novos patos na banheira e quem
sabe, uma substituição de progenitor na lavagem, por exaustão da paciência do
primeiro. Convém dizer, que este método conservador, nem sempre resulta nos
banhos mais prazerosos.
II
Pensei que a
questão da nova Ponte sobre o Douro estava mais do que decidida: há uma
proposta de traçado arranhada burocraticamente e um senador da Escola do
Porto envolvido no júri, ingredientes fundamentais ao domínio de qualquer
excesso de uma oposição melindrada. Mas afinal não, e ainda bem! Ontem no
Público, a Professora Teresa Cálix da FAUP, fala-nos de um
agradável imprevisto prático de Projecto V feito proposta-crítica, que
aposta na adição de plugins à Ponte da Arrábida: uma linha de metro e uma ciclovia.
“O metro na Ponte da Arrábida não era o desafio do exercício, no
entanto, a realidade do território existente determinou a sua pertinência em
detrimento da já apontada travessia”.
III
Para o caso da nova Ponte na Arrábida, consegue-se perder (ganhar) mais uns anos em estudos? Se a Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto diz que sim, parece-me que a cidade consegue aguentar mais um pouco as suas linhas, entre os lamentos dos saudosos das quintas e entranhas cultivadas e os gritos dos vanguardistas das linhas rápidas, práticas e úteis que cosem a cidade, sem ainda assim, arriscar tocar no seu ex-líbris número seis ou oito, a Ponte da Arrábida (tudo depende se as memórias podem fazer número).
IV
O mais difícil, é
afinal encontrar-se o conservador e o progressista nesta narrativa. Um, quer desenhar o novo para não tocar no antigo, ferindo visualmente o ainda mais antigo. O outro,
arrisca o estudo de uma alternativa que toca o antigo, mas não ferindo a história, fere o histórico de adição. É tudo uma questão de tempo e de tempos. Deve ter sido bonita esta discussão. É
pena eu ter estado fora estes anos todos. Mas ainda bem que a FAUP chegou novamente atrasada para nos alegrar a semana!
V
Durante meses, metodicamente, resisti aos avanços da Silvia para colocar cebola na pizza. Quando finalmente cedi, não pude crer como é que alguém pode suportar uma pizza sem aquela ambrósia. Recentemente aceitámos a indirecta sugestão de adicionar umas colheres de chá de pesto. Hold the line. Ainda não é o tempo do pesto. Só mais uns meses, que a água do banho ainda está morna. Por cá, com o clima que temos, à agua demora sempre a esfriar. É particularmente interessante viver neste "quase cume da cabeça da Europa."
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