02.09.2021 Interessa-me particularmente as leituras
Nas ruas, as máscaras tornaram-se finalmente facultativas. Como ninguém fiscaliza, ninguém se queixa e tudo vai bem neste didático equilíbrio que permite a uns continuarem-se heróis na higiene e a outros sentirem-se soberbos subversivos na baixa ilegalidade. Ao almoço, nos melhores restaurantes, uma nova estirpe social come de máscara no queixo em “perfeita, absoluta indiferença”. Aguarda-se pelo fim de férias do parlamento e demais aventuras paranoicas. A estabilidade é uma bênção para estes tempos, mas pelo meio, ficam fracos para a escrita!
II
O Expresso tem uma tiragem média de 56mil exemplares impressos e 49 mil assinaturas digitais. 100
mil parece um número assustadoramente baixo, mas facilmente, e para nos
descansar, podemos multiplicá-lo por quatro ou cinco leitores de proximidade - um
simpático agregado familiar ascendente e descendente - e já andamos próximos do
meio milhão. Já o Público anda lá perto. Com 12 mil impressos (o CM imprime
51mil) e 40mil digitais (o CM com apenas 2300), vezes cinco, à qual somamos o portfólio gratuito e
conseguimos também alcançar, relaxadamente, o nosso tão estimado objectivo.
Em 1871, Eça
e Ramalho imprimiram 2000 unidades d´As Farpas que rapidamente
esgotaram, número esse que foi crescendo com os tempos. Consta que por essa
data, 80% dos 5 milhões de portugueses eram analfabetos, por isso, e
como estes escritos preferem as letras aos números, como se diz por aí, é
fazer as contas e tirar as desejadas conclusões da capacidade influenciadora da crítica dos nossos dois mestres que como rede social apenas tinham contas no Grémio e na Casa Havaneza.
III
“A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Toda a vida espiritual, intelectual, parada. O tédio invadiu todas as almas. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.”1871.
IV
65% das vendasde livros em Portugal acontecem no Natal, mas As Farpas encontram-se graciosamente digitalizadas no site da Biblioteca Nacional de Portugal.
V
O ProfessorImmanuel Rath, futuro palhaço, vivia num sótão decorado a livros (até um globo): eis a imagem de uma casa de um professor e eis a imagem auto-sentida de um professor, que como um palhaço, tenta as formas mais (humilhantes) divertidamente laboriosas para chamar a atenção para a leitura. “O tédio invadiu todas as almas”.
“Estes ensaios só poderiam sobreviver na região intermédia, não agradam os espíritos comuns e vulgares, nem tão pouco aos singulares e excelentes.” E eu a pensar que me ia reformar disto!
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