16.10.2021 Interessa-me particularmente os 400(e 7)
Acabei de
descobrir que tenho 400 seguidores no Instagram. 400! No Facebook, são mais 7.
400(e 7) pessoas e instituições que se deram ao trabalho de publicamente e sem qualquer vergonha, mostrar ao mundo digital que temos qualquer coisa de particularmente interessante em comum. Para um introvertido como eu, com cara daqueles avisos “do not disturb” que se colocam à porta dos quartos de hotel, convenhamos que 400(e 7) é um feito particularmente interessante! Obrigado.
400(e 7) pessoas e instituições que se deram ao trabalho de publicamente e sem qualquer vergonha, mostrar ao mundo digital que temos qualquer coisa de particularmente interessante em comum. Para um introvertido como eu, com cara daqueles avisos “do not disturb” que se colocam à porta dos quartos de hotel, convenhamos que 400(e 7) é um feito particularmente interessante! Obrigado.
II
E então, quem são vocês? O Sr. Zuckerberg devia colocar um pequeno questionário público de entrada: Porque é que queres ser amigo / seguir esta pessoa? Ajudava!
Caríssimos, bem sei que, como dizia o Steiner, que a ideia da Europa ”é feita de cafés”, mas não precisamos de ir conhecer-nos pessoalmente para a esplanada do Aduela fazer de contas que lemos os tomos do Proust e que não ficámos com uma revolta intestinal depois de ver o Titane. O mundo digital deu-nos esta benesse irresponsável e desobrigada de conversarmos uns com os outros à distância do bloqueio temporário. Vamos a isso?
III
Já não me lembrava que os bancos de uma Igreja eram tão desconfortáveis. Foram desenhados para o senta-levanta-ajoelha. Um banco desenhado para marcar uma posição, não para estar: eis uma outra ergonomia. Esta semana um festival de Música Sacra ocupa-me as noites do Porto.
Interessa-me particularmente ser um ateu não-praticante. Pensava que tinha sido eu a inventar a expressão, mas o mês passado ouvia-a pelo Luiz Felipe Pondé. De vez em quando é bom fazer parte de uma tribo. Para já somos dois, eu e o Pondé. Nada mau. Também tenho outra tribo. Somos 400(e 7), mas tal como o Pondé, não nos conhecemos.
IV
Outro-dia um conhecido meu mascarou-se para me falar. É um dos 400(e 7). Os tempos da peste continuam absolutamente fascinantes. Os meus concidadãos mantêm-se orgulhosos da sua vitória higiénica. A peste parece ter acabado. Começaram os tempos (só) da máscara. Um outro negacionismo para além da Lei e da Ciência. Nos restaurantes, poucos se aventuram a desfilar o seu sorriso franco a caminho do quarto-de-banho. Mas à noite tudo muda. À noite cumpre-se a Lei e acredita-se na Ciência. De dia o credo é sanitário: ou a negação dos dias.
V
“A dignidade do homo sapiens é precisamente essa: a percepção da sabedoria, a demanda do conhecimento desinteressado, a criação de beleza”, diz o Steiner. Esta semana só trago o George Steiner. Leu-se pouco esta semana, mas leu-se A Ideia da Europa que já é tanto. “É como se a Europa, diversamente de outras civilizações, tivesse intuído que um dia ruiria sob o peso paradoxal dos seus feitos e da riqueza e complexidade sem par da sua História.”. A Europa enquanto um ideia de fim.
E socorrendo-nos do cancioneiro pop: “do not disturb”, eis o que dizem os meus olhos. Tenho de encontrar uma forma de ir virando a placa e convidar a entrar. 400(e 7) não é? Vão entrando, o quarto precisa de ser arrumado (péssima metáfora de estilo Petersoniano). Precisam de ajuda para arrumar o vosso? Nota: não usar metáforas com arrumação de quartos de Hotel. Boas carreiras políticas foram arrumadas por menos.
VII
No sec. XIX as Senhoras da alta mandavam dizer que “Hoje a Senhora não recebe!”. De um lado o Do not disturb – hoje não recebo, e do outro? Que cara devo pôr para convidar a entrar. O Sr. Zuckerberg resolveu-nos bem a questão não foi?
Obrigado 400(e 7), apareçam mais vezes. Mas olhem que há dias que eu não recebo!

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