23.12.2021 Interessa-me particularmente a paranoia (e o aborrecimento) XIX

 



 
I

Caro amigo, credita na Ciência? E em Deus, acredita? É tão mais fácil compreender os insondáveis caminhos do senhor do que a bula do aspegic. Nestas coisas da fé, há-que manter uma certa neutralidade, um certo agnosticismo. Caro amigo, já agora. E na Democracia? Acredita na Democracia? Pelo menos aqui, para nos ajudarem ao credo, temos um Churchill com pouca fé na democracia ou um Soares com pouca fé nos democratas. Caríssimo, considera útil a democracia? Utilidade, eis um conceito mais prestimoso que a fé.
Caro amigo, a Ciência é útil? E Deus, tem utilidade? A serventia enquanto medida de avaliação. Nestas coisas da peste, tem-nos servido bem a fé na Ciência. Já na Democracia…

II

Os níveis de absurdo estão absurdamente altos. Paranoias, medos, obrigações, proibições e quejandos povoam o dia-a-dia da nossa democracia. Pela cidade, ordeiras filas de criminosos apresentam-se voluntariamente a julgamento à procura de (uma temporária) carta de alforria. Na bicha para o barraco da saúde, são ainda apátridas doentes; depois do cubo branco – quem sabe – saudáveis cidadãos… por 48horas.
Artigo décimo primeiro, alínea um, declaração dos direitos do (pré-woke version) homem “toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada” ou vice-versa!

III

Na Suécia, os passes sanitários já podem ser inseridos através de um microchip debaixo da pele. Na Coreia do Sul as câmaras de vigilância já detectam infectados. Infectados com quê, mesmo? Democratas com fé na Ciência - sobre o quais contudo se ignora a sua opinião sobre Deus - aplaudem: em tudo o mais, cabe-lhes a crença na utilidade da tecnologia.

IV

Caro amigo, anda aborrecido isto, não anda? O que têm em comum o cinema, o teatro, o bordel e o estádio de futebol? Uma tarde bem passada em pré-estágio na fila do julgamento à procura de absolvição. O Confinamento da Cultura e do Lazer voltou, transformando o gosto em coisa aborrecida, e com direito a arbitragem sumária em sede própria: no olhar recriminatório do transeunte.

V

Porto, 9 horas da manhã. 99 por cento de mascarados na rua. O 1 por cento era eu e um tipo que fumava com ela no queixo. A fé tem razões que a razão desconhece. As máscaras na rua foram (hoje) poupadas à Lei. Primeiro a Moral, depois a Lei. Primeiro as leis de Deus, depois as leis do homem. Ou vice-versa!

VI

Meu caro amigo, daqui a nada vamos a votos. Mantemos essa fé na democracia? E nos democratas? “Se pudesse escolher uma personalidade portuguesa para almoçar no Natal, quem seria? A sondagem da Pitagórica para a CNN Portugal revela que a maioria dos portugueses optaria por Cristiano Ronaldo e CristinaFerreira.” Caríssimo amigo, não se preocupe com os democratas. É pô-los entretidos numa fila para almoçar, enquanto damos um jeito à democracia. Ora veja lá o vídeo até ao fim. Vai ver que eles até gostavam de almoçar connosco.
Haja fé!

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