06.01.2022 Interessa-me particularmente a complexidade e a contradição II


 


I

“Isto (as nove páginas do programa de Ventura) não é coisa que se apresente ao país” eis a lapidar humilhação de ontem. O debate entre Rui Tavares e André Ventura era mais interessante do que parecia. Jogava-se (pois estes duelos de capoeira de 25minutos são pouco melhores que um passatempo de salão) a pertinência de uma estratégia: desmascarar a nulidade do programa do adversário e fazê-lo com uma habilidade inteligente, uma preparação exemplar e uma serenidade própria de quem apenas conhece uma única (e desejada) fórmula. Rui Tavares nada mostrou ontem à amalgama de desavindos que pelos mais estridentes motivos votam em Ventura, mas ganhou definitivamente o respeito de toda a intelligenza que se diverte com estas coisas da política.
Bravo! Continue-se agora o trabalho junto dos que votam.

II

E a tal de fórmula de Tavares para estes breves divertimentos de 25 minutos, desenhados para o espectáculo dos dias, é precisamente a mesma que usou com Costa e Catarina. Inteligência, preparação e serenidade. Há aqui novas formas de estar na política. Não estamos habituados. Habituemo-nos!
Até ontem, só Francisco Mendes da Silva tinha conseguido “vencer” Ventura, numa longa conversa-entrevistapara o Público algures na última eleição presidencial. Mendes da Silvia fez a Ventura uma traquinice sem par, deu-lhe tempo: depois de uma simples questão, longos monólogos para explicar, desenvolver e detalhar ideias. Resultado? Votamos a citar Tavares, “zero”. Não há nada ali de substancial, todos o sabemos. Como chegar lá só Mendes da Silva e Rui Tavares o conseguiram. Vamos ver quem consegue copiar!

III

E Ventura, como esperado, tentou Tavares com a mágica do RBI e os seus quejandos: vamos andar a “pagar a quem não trabalha e não faz nada?”
Sim - dizemos por aqui – é precisamente (também) isso o RBI.
Se foi o Rui Tavares e o seu pragmatismo que me fez chegar perto do LIVRE, é o Jorge Pinto e as suas utopias que me fazem continuar por aqui. Depois da noite de ontem, podemos com alguma segurança, confirmar a eleição de Tavares em Lisboa. Por cá, ainda precisamos de algum passo de mágica para garantir Jorge Pinto na Assembleia: quem sabe, se não será mesmo o RBI.

IV

E é tanto este pragmatismo como esta utopia, que me fazem estar num orgulhoso sétimo lugar na lista do LIVRE para a Assembleia da República pelo Círculo do Porto. Não serei eleito, mas na pouca influência que a minha introversão me permite, farei o previsível para eleger o Jorge.
Interessa-me particularmente que as suas utopias possam um dia transformar-se em pragmatismos, mas não me interessa menos, já cá não estar para as experienciar. Há em mim uma (indesejável) bipolaridade que me põe do lado do Mendes da Silvia a exigir tempo face à revolução como nos conservadores modernaços, cépticos e blasés do final do século passado. 

V

Mas isso são questões estéticas. E há outras?
Às vezes há.

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