24.02.2022 Interessa-me particularmente a paranoia (e a guerra) XXI
I
“Começou a Guerra”: eis uma manchete que os media por cá exibem com distinção. Em sentido inverso, ataque e invasão são alguns dos epítetos mais comuns na comunicação social internacional. Este desejo com a guerra, é também comparável com a iminência de terrorismo que um jovem estudante com problemas internos e externos se preparava para cometer numa universidade há umas semanas. O alarme jornalístico nacional é proporcional à nossa irrelevância nos palcos do mundo: estamos longe, somos pequenos, insignificantes e ainda bem. É uma sorte estar-se por aqui!
II
A peste talvez já tenha acabado e não se deu conta. Talvez a tal de guerra venha ajudar. A peste desaparecerá sorrateiramente, pelas pingas da chuva (oxalá chovesse), cada vez menos presente nos headlines de jornal, nos rodapés televisivos, nas conversas de circunstância. “Acabou a peste”: eis uma manchete que os media por cá não se orgulharão de exibir.
Mas o fim da peste, ao contrário do início da guerra, não tem dia marcado. Consta que afinal Putin gravou a declaração da guerra dois dias antes. Quando começa uma guerra? No dia da filmagem ou da emissão?
III
“Começou a Guerra”, ainda que a guerra comece sempre antes, num longo jogo de pujança e cobardia. A excêntrica mesa de Putin, onde se ensaiaram os preliminares da guerra é tão simbólica quanto as explosões, o sangue ou as longas filas para o supermercado em Kiev, numa contínua linhagem com os inícios da peste. A procura sôfrega e irracional pelo essencial: eis a imagem de uma guerra, qualquer guerra. A peste foi uma guerra: ou assim se quis.
IV
“Acabou a peste”, poucos interessados nesta machete. Uma peste a várias velocidades. Há quem nunca tenha dado por ela e quem, simplesmente, se habituou e não vê as vantagens de um outro (do outro) hábito!
V
E no dia em que “começou” uma guerra anunciada, eis que a NATO, o G7 e o Concelho Europeu reúnem hoje, como que apanhados de surpresa, sem procedimentos prévios, sem estratégias alinhavadas para a tão aguardada guerra. Parece que fazem falta arquitectos na guerra. Antes, durante e depois.
VI
E é uma sorte estar-se por aqui, longe da guerra das guerras, dentro da guerra da peste que parece estar quase a acabar (ou já ter acabado). Na guerra da peste todos fomos bons guerrilheiros no toca-e-foge obediente. Na guerra da guerra, somos meros espectadores ansiosos a acompanha-la à curta distância como se fosse nossa. E há quem diga que é nossa, porque é de todos; e há quem diga que é deles, do not disturb. No jogo da guerra como nos outros, há que manter o equilíbrio e as devidas distâncias. Para já, a guerra continuar no ecrã.
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