22.04.2022 Interessa-me particularmente a liberdade (e a Escola Pública)
I
Hoje dei a
minha primeira aula sem máscara!
Vi o rosto (ou o
queixo) dos meus alunos pela primeira vez e vou levar para sempre comigo as suas
caras de júbilo. E eles, a minha. Parece que um novo layer
de proximidade foi criado entre nós, naquele tão inesperado como simbólico,
espaço de cumplicidade. Agora sim, estamos prontos para (re)começar!
Quando passeei
pelos corredores no final de aula, percebi que ali talvez tenha sido eu o único a
permitir-lhes a tão desejado arrojo. É o hábito! Mas o hábito é ainda,
lamentavelmente, o melhor método que dispomos para ensinar. Isso ou a
liberdade!
II
Se por forças
ocultas da sorte me fosse permitido votar em França, duvido que tivesse
votado em Macron na primeira volta. O castigo é merecido! Emmanuel Macron,
na sua jovialidade e soberba intelectual - que tanto aprecio - foi dos últimos
políticos dos quais ainda esperei algo (depois tornei-me um céptico; depois
tornei-me, episodicamente, um político). Particularmente atraído pela decadência,
talvez não conseguisse esquivar-me ao apelo de um Partido Socialista em decomposição.
Afinal, não me sinto
capaz de votar em partidos com mais de 2%.
III
Mas entretanto,
a velha Europa percebeu que a dicotomia esquerda-direita está como os partidos
tradicionais: em decadência. Um novo eixo manifesta-se em urgência: de um
lado está afinal a liberdade; do outro, outra coisa com muitos nomes:
nacionalismo, populismo, autoritarismo, reaccionarismo ou até mesmo, veja-se, progresso
utopista, como nos velhos fascistas do século passado.
Nos tempos em
que fui, episodicamente, político, tentei demonstrar que o antigo bloco das
esquerdas vs bloco das direitas estava ultrapassado. Afinal, por uma vez,
não cheguei tarde! O debate intelectual entre os optimistas e os pessimistas
é tão particularmente interessante como particularmente desajustado às
motivações dos votantes.
IV
Aguardo pacientemente por um telefonema com um ralhete! Talvez devesse ter esperado ordens de cima para libertar os rostos sorridentes dos meus alunos. Mas, é do hábito! Gosto de criticar enquanto cumpro as Leis.
V
Aguardo pacientemente que, como eu e os meus alunos, os meus concidadãos cumpram escrupulosamente a Lei. Hoje, todos os meus clientes, o carteiro e o senhor que conta a água entraram-me mascarados. É do hábito! Um hábito ganha-se em 90 dias. Será que este hábito particular se perde em 90 dias?
VI
O português médio, orgulhoso agente de saúde pública, que se viu socialmente útil durante dois anos a salvar vidas através do seu nobre uso e porte de máscara, vai certamente demorar a aceitar que, surpreendentemente, de um dia para o outro, também ele foi descartado.
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