20.01.2022 Interessa-me particularmente o trambolho (e o duelo)
Rui Tavares
nasceu a 29 de Julho de 1972, em Lisboa. Sérgio Sousa Pinto, também!
Certamente
haverá muito mais que os possa unir, mas o real motivo sobre aquilo que
os separa ficará para sempre encarcerado nas memórias enevoadas das duas
enfermeiras de serviço naquela morna madrugada de verão, que involuntariamente
acabaria por parir dois dos tipos mais interessantes que boiam no nosso escasso
espaço público.
Ontem, Tavares
aproveitou o mediático programa do RAP, para dar um nome ao lugar do utilitário
apelo ao voto: preferem eleger o décimo terceiro deputado do PS (BE/CDU)
ou um deputado do LIVRE? Acontece que o décimo-terceiro era
Sérgio Sousa Pinto, alguém que Tavares sabia bem que iria transformar aquilo num
assunto, que é como quem diz em linguagem de reality-show: dar-lhe (dar-nos) canal.
E Sousa Pinto
fez o que pede uma honra ferida como tendência para a cólera. Munido do
seu estilo queirosiano (qual de nós não o tenta!), usou a rede social que
tinha mais à mão e começou a disparar farpas em direcção ao seu “luzidio,
lampeiro e muito dado” adversário de berço. Se “líquen” foi
a ofensa com mais destaque tuiteiro, não consigo esquecer a composta: “meteu
o pezinho na porta, como um vendedor de aspiradores, ou um Martim Moniz
subnutrido.”
II
Acontece que se
de um lado, sou militantemente um dos “infelizes [que] acham muita
piada” ao Rui Tavares, do outro não escondo a minha reverência pela retórica,
o estilo e os excessos do meu Caro Sérgio a quem até já dediquei algumas
destas pueris missivas.
Claro que, antes,
desta encruzilhada me costumava safar bem com o tão poético e irresponsável
(como mentiroso) argumento do costume: nisto o que me interessa
particularmente é apenas a estética! “Me costumava safar”, dizia eu. É que
se não são sou o décimo-terceiro, sou o sétimo e mandam as boas práticas
democráticas abster-me de demais comentários, coisa que confesso estranha por nisto
ainda ser ainda principiante.
III
Rui Tavares nasceu a 29 de Julho de 1972, em Lisboa. Sérgio Sousa Pinto, também. Que ambos consigam levar a sua disputa de berço para sede própria: a casa da democracia.
IV
E para dia 30 já foi escolhido o modelo: teremos votação com um horário especial para os proscritos. Em boa hora se abandonou a moderníssima votação por drive thru, capaz de marcar por décadas a caricatura do processo democrático. Estou muito curioso para conhecer a estratégia para a cobertura televisava das urnas de voto entre as 18h e as 19h. Conseguirão as nossas têvês escusar-se à escatológica entrevista “Ora diga-me caro senhor, está infectado? Não acha perigoso vir votar? Não tem medo de infectar ninguém? Achou mais importante exercer o seu direito de voto do que proteger o seu semelhante? Sente-se um egoísta? Ou um ego-geringonço?”
V
Cá por mim serei eco-geringonço como o Rui. Lamento meu caro Sérgio. Razões estéticas! E há outras?
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