29.10.2021 Interessa-me particularmente as políticas (as vítimas) e as poéticas II
I
Ando radiante
com o caos político!
António Costa,
ungido da sua esperteza estratégica, deitou-se abaixo enquanto ainda estava
por cima. Nos próximos meses, lamúrias de vítima serão ecoadas pelos
media à procura de uma maioria absoluta, bem regada a dinheiro estrangeiro. Eis a esperteza estratégica a usar o ar dos tempos: se na
cidade das redes, a vítima é o novo-herói; na política, a vítima
continuará eternamente governo. Assim se deseja. Só que não parece.
II
Afinal o
Governo caiu! Falhei no prognóstico - como todos – por um erro de interpretação:
o melhor para os povos não é o objecto dos partidos: o que é, senão a sua
própria sobrevivência. Se fosse, tínhamos uma eterna unidade de esquerda: que deus nos livre, como se dizia nos blogues de início de século (ando sempre tão atrasado!)
Uns, cansados de
levar, querem voltar à sua velha posição de bater, de ser oposição –
nada mais nobre na arte da política do que ser “o grão na engrenagem” (expressões de outras latitudes), o constante anjinho da consciência no ombro. Cada partido
deve conhecer o seu papel e há muito que o papel das esquerdas estava
transviado numa incómoda posição de muleta.
O outro, o PS, com
medo do futuro, aprisiona o presente possível num arriscado jogo de aritmética
cronológica: antes eleições agora, do que daqui a dois anos, onde a derrota é certa.
Afinal o
Governo caiu! Não porque fosse mau para os povos, mas porque era mau para
si.
III
Ando radiante
com o caos político!
Mas não me
interessa particularmente este maniqueísmo primário esquerda-direita:
nenhum ser-político pode ser tão (in)genuinamente elementar na sua trincheira sem
se contradizer.
A filosofia
política é tão mais interessante quanto mais gavetas deixar abertas.
Lamúrias de
vítima ou a festa da vitimização.
Consta do dicionário
que lamúrias vem de lémurias, uma festa em honra dos lémures, não os fofos
bichos em escala de cores-neutras, mas sim uma “imagem fantásticas de mortos,
espectros, fantasmas”. Na meia-hora que me dou a estes escritos, não vou
conseguir rebuscar grandes paralelismos com isto. Avancemos.
V
Afinal o Governo (não) caiu!. Talvez tenha sido só uma vontade súbita de protagonismo (extra) do nosso Presidente, tal como uma ida ao multibanco, um tirar a camisa, uma visita em calções ao supermercado. Por estes dias ecoa por aí uma antiga entrevista de Herman José a Paulo Portas: “Marcelo é filho de Deus e do Diabo. Deus deu-lhe a inteligência e o Diabo a maldade”.
VI
Mas afinal, no dia
da festa da Democracia, como poucos, acabo sempre por ir lá. Com gosto, ficciono uma
fé de que que a condição humana é passível de ser salva pelo (bom)
exemplo e voto num qualquer 1%. Apesar de tudo, acredita-se na Democracia. Não porque salve. Mas apenas porque
se deseja que tal fosse possível.
Ando radiante
com o caos político!
Se eles brincam
com o poder que eu lhes dou, ao menos deixa-me divertir-me com isso!
VII
Temos de nos levar menos a sério e apreciar o caos!
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